Ao meio dia de amanhã, I de agosto, começará o "Perdão de Assis", que se estenderá até o entardecer do dia 02 de agosto.
Abaixo o relato do acontecido e as Indulgências da Porciúncula estendidas à humanidade inteira.
Boa Leitura.
Pe. Marcélo Tenorio
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Certa noite do mês de Julho de 1216, como acontecia em tantas outras noites, na silenciosa solidão da pequena Igreja da Porciúncula, São Francisco ajoelhado, estava profundamente mergulhado nas suas orações, quando de súbito, uma luz vivíssima e fulgurante encheu todo o recinto e no meio dela, apareceu Jesus ao lado da Virgem Maria sorridente, sentados num trono e circundados por diversos Anjos.
Jesus perguntou-lhe:“Qual o melhor auxílio que desejarias receber, para conseguir a salvação eterna da Humanidade?”
Sem hesitar Francisco respondeu: “Senhor Jesus, peço-Vos que, a todos os arrependidos e confessados, que visitarem esta Igreja, lhes concedais um amplo e generoso perdão, uma completa remissão de todas as suas culpas.”
“O que pedes Francisco, é um benefício muito grande,”disse-lhe o Senhor, “muito embora sejas digno e merecedor de muitas coisas. Assim, acolho o teu pedido, com uma condição, deverás solicitar essa indulgência ao meu Vigário na Terra.”
No dia seguinte, bem cedinho, Francisco acompanhado de Frei Masseu, seguiu para Perúgia, a fim de se encontrar com o Papa Honório III. Chegando disse-lhe:“Santo Padre, há algum tempo, com o auxílio de Deus, restaurei uma Igreja em honra a Santa Maria dos Anjos. Venho pedir a Vossa Santidade que concedais, nesta Igreja uma indulgência a quantos a visitarem, sem a obrigação de oferecerem qualquer coisa em pagamento (naquela época, toda indulgência concedida a uma pessoa, estava ligada à obrigação dessa pessoa fazer uma oferta), a partir do dia da dedicação da mesma.”
O Papa ficou surpreendido e comoveu-se com o tal pedido. Depois perguntou: “Por quantos anos pedes esta indulgência?”
“Santo Padre, não peço anos, mas penso em muitos homens e mulheres que precisam sentir o perdão de Deus”, respondeu Francisco.
“Que pretendes, em concreto, dizer com isto?” retorquiu o Papa.
“Se aprouver a Vossa Santidade, gostava que todas as pessoas que venham a visitar a Porciúncula, contritos de seus pecados, em “estado de graça”, confessado e tendo recebido a absolvição sacramental, obtenham a remissão de todos os seus pecados, na pena e na culpa, no Céu e na Terra, desde o dia de seu batismo até ao dia em que entre na Porciúncula.”
“Mas não é um costume a Cúria Romana conceder tal indulgência!"
“Senhor, disse o “Poverello”, este pedido não o faço por mim, mas por ordem de Cristo, da parte de quem estou aqui.”
Ouvindo isto o Papa cheio de amor repetiu três vezes:“Em nome de Deus, Francisco, concedo-te a indulgência que em nome de Cristo me pedes.”
Tendo alguns Cardeais, ali presentes, manifestado algum desacordo, o Papa reafirmou: “Já concedi a indulgência. Todo aquele que entrar na Igreja de Santa Maria dos Anjos da Porciúncula, sinceramente arrependido das suas faltas e confessado, seja absolvido de toda pena e de toda culpa. Esta indulgência valerá somente durante um dia, em cada ano, “in perpetuo”, desde as primeiras vésperas, incluída a noite, até às vésperas do dia seguinte.”
A “consagração” da Igrejinha aconteceu no dia 2 de Agosto do mesmo ano de 1216.
A Indulgência da Porciúncula somente era concedida a quem visitasse a Igreja de Santa Maria dos Anjos, entre a tarde do dia 1 Agosto e o pôr-do-sol do dia 2 Agosto. Em 9 de Julho de 1910, o Papa Pio X concedeu autorização aos Bispos de todo o mundo, só naquele ano de 1910, para que designassem qualquer Igreja Pública das suas Dioceses, a fim de que também nelas, as pessoas recebessem a Indulgência da Porciúncula. (Acta Apostolicae Sedis, II, 1910, 443 sq.; Acta Ord. Frat. Min., XXIX, 1910, 226). Este privilégio foi renovado por um tempo indefinido por decreto da Sagrada Congregação de Indulgências, em 26 março de 1911 (Acta Apostolicae Sedis, III, 1911, 233-4).Significa que, atualmente, qualquer Igreja Católica de qualquer país, tem o benefício da Indulgência que São Francisco conseguiu de Jesus para toda humanidade. Assim ganharão a Indulgência, todas as pessoas que estando em "estado de graça", visitarem uma Igreja nos dias mencionados, rezarem um Credo, um Pai-Nosso e um Glória, suplicando ao Criador o benefício da indulgência, e rezando também, um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e um Glória, pelas intenções do Santo Padre. Poderão utilizar a Indulgência em seu próprio benefício, ou em favor de pessoas falecidas ou daquelas que necessitam de serem ajudadas na conversão do coração.
Por outro lado, a Indulgência é "toties quoties", quer dizer, pode ser recebida tantas vezes quantas a pessoa desejar, isto é, em cada ano, fazendo visitas a diversas Igrejas das 12 horas do dia 1 de Agosto até o entardecer do dia 2 de Agosto.
Parecer-vos-á, irmãs, que estas almas a quem o Senhor se comunica tão particularmente estarão já tão seguras de que hão-de gozá-l'O para sempre, que não terão que temer nem chorar seus pecados; e será um engano muito grande, porque a dor dos pecados cresce tanto mais quanto mais se recebe de nosso Deus. E tenho para mim que esta pena não nos deixará, até que estejamos onde nenhuma coisa no-la possa dar.
É verdade que umas vezes aperta mais que outras, e também é de diferente maneira; porque não se lembra da pena que há-de ter por eles, mas sim de como foi tão ingrata a Quem tanto deve, e a Quem tanto merece ser servido; porque, nestas grandezas que se lhe comunicam, entende muito mais a de Deus. Espanta-se de como foi tão atrevida; chora o seu pouco respeito; parece-lhe coisa tão desatinada o seu desatino, que não acaba nunca de o lastimar, quando se lembra das coisas tão baixas pelas quais deixava uma tão grande Majestade. Muito mais se lembra disto do que das mercês recebidas, sendo elas tão grandes como as ditas e as que estão por dizer; parece que as leva um rio caudaloso e as traz a seu tempo; mas isto dos pecados estão como lodo, pois sempre parece que se avivam na memória e é bem grande cruz.
Sei de uma pessoa que, deixando de querer morrer para ver a Deus, o desejava para não sentir tão habitualmente a pena de quão desagradecida tinha sido a Quem tanto deveu sempre e havia de continuar a dever; e assim lhe parecia não poder haver ninguém cujas maldades pudessem chegar às suas, porque entendia que não haveria a quem Deus tanto tivesse sofrido e tantas mercês tivesse feito. No que toca a medo do inferno, nenhum têm. O de poderem vir a perder a Deus, às vezes aflige muito; mas é poucas vezes. Todo o seu temor é que não as deixe Deus de Sua mão e O venham a ofender, e se vejam em estado tão miserável como se viram em outros tempos, pois de sua própria pena ou glória não têm cuidado; e, se desejam não estar muito tempo no purgatório, é mais para não estarem ausentes de Deus, enquanto ali estiverem, do que pelas penas que hão-de passar.
Eu não teria por seguro, por favorecida que uma alma esteja de Deus, que ela se esquecesse de que nalgum tempo se viu em miserável estado; porque, embora seja coisa penosa, aproveita para muitas coisas. Talvez que, como eu tenho sido tão ruim, me pareça isto, e esta é a causa de o trazer sempre na memória; as que têm sido boas, não terão que sentir; embora sempre haja quebras enquanto vivemos neste corpo mortal. Para esta pena não é alívio nenhum pensar que Nosso Senhor já tem perdoados e esquecidos os pecados; antes acresce à pena ver tanta bondade e fazerem-se mercês a quem não merecia senão o inferno. Penso que foi este um grande martírio em São Pedro e na Madalena; porque, como tinham o amor tão acrescido e tinham recebido tantas mercês e tinham entendida a grandeza e a majestade de Deus, seria bem duro de sofrer, e com muito terno sentimento.
"Queres que cite as vias da penitência? São muitas, é certo; variadas e diferentes; mas todas levam ao céu:
PRIMEIRA VIA DA PENITÊNCIA: a reprovação dos pecados Sê tu o primeiro a dizer os teus pecados para seres justificado. O Profeta tão bem dizia: ‘Confessei contra mim mesmo a minha injustiça ao Senhor, e Ele perdoou a impiedade do meu coração’. Reprova também tu aquilo em que pecaste; basta isto ao Senhor para desculpar-te. Quem reprova aquilo em que pecou, custará mais a recair. Estimula o acusador interno, a tua consciência, para que não venhas a ter acusador lá adiante no tribunal do Senhor. Esta primeira, é ótima via de penitência. SEGUNDA VIA DA PENITÊNCIA: o perdão das faltas do próximo Não guardemos lembrança das injúrias recebidas dos inimigos, dominemos a cólera, perdoemos as faltas dos companheiros. Esta segunda via não é nada inferior à primeira. Com esta via, aquilo que se cometeu contra o Senhor será perdoado. Eis outra expiação dos pecados. ‘Se perdoardes aos vossos devedores, também vos perdoará o vosso Pai celeste’. TERCEIRA VIA DA PENITÊNCIA: a oração Nesta via, a oração deve ser muito ardente e bem feita; uma oração que brote do mais fundo do coração.
QUARTA VIA DA PENITÊNCIA: a esmola A esmola possui muita e poderosa força no caminho para a conversão e transformação do coração. Leva à prática da caridade e ao desprendimento dos bens e de si mesmo. QUINTA VIA DA PENITÊNCIA: a humildade Ser modesto no agir e humilde, não menos que tudo o mais, destrói os pecados. Testemunha disto é o publicano que não podia dizer a seu favor nada feito com retidão, mas em vez disso ofereceu a humildade e depôs pesada carga de pecados. Estão indicadas assim, as cinco vias da penitência. Não sejas preguiçoso, meu irmão, mas caminha todos os dias por elas. São fáceis e portanto, não podes nem sequer objetar a pobreza, pois ainda que pela indigência leves vida dura, renunciar à ira e mostrar humildade está em teu poder, bem como rezar assiduamente, condenar os teus pecados e perdoar os dos outros. Em parte alguma a pobreza é impedimento. O que digo aqui, naquela via de penitência que consiste em dar dinheiro (falo de esmola) ou em observar os mandamentos, será obstáculo à pobreza? A viúva que deu dois tostões já respondeu. Tendo, pois, aprendido o meio de curar as nossas chagas, usemos deste remédio. E com isso, recuperada a saúde, vamos com confiança à mesa sagrada e corramos gloriosos ao encontro de Cristo, Rei da glória; e alcançaremos os eternos bens, por graça, misericórdia e benignidade de nosso Senhor Jesus Cristo."
"Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, está o de vencer-se a si mesmo..." S. Francisco de Assis
"Alguns dizem: 'Não sou pessoalmente favorável ao aborto, mas não irei impor o meu ponto de vista a outros'. É como dizer que não é pessoalmente favorável ao assassínio, mas já que há pessoas que desejam tal coisa, tal ponto de vista não deverá ser imposto a outros.
Tal pensamento não pode ser sério! Isto é uma Lei Divina, não uma simples norma de algum clube.
Em certos países, se alguém tortura um cachorro será levado à Justiça por crueldade contra um animal; já a matança de bebés não-nascidos é rotulada como "escolha" ao invés do que esse crime realmente é: UM ASSASSÍNIO. Que se dê o nome correcto a tal acto."´ Cardeal Arinze, in Contra o Aborto. Abortar é assassinar covarde e cruelmente.
DEUS criou os Anjos num alto estado de perfeição natural e além
disso os elevou à ordem sobrenatural. É de fé que todos os espíritos angélicos
foram criados bons. Essa é uma conseqüência obrigatória da verdade de fé, de
que todos os espíritos angélicos foram criados por Deus, atestada pelo símbolo
niceno-constantinopolitano (o Credo da Missa), o qual proclama: “Creio em Deus
Pai Todo-poderoso, criador ... das coisas visíveis e invisíveis”; essa verdade
foi ainda definida nos Concílios de Latrão IV e Vaticano I.
A Sagrada Escritura, com efeito, chama-os “filhos de Deus"
(Jó 38, 7), “santos” (Dan 8, 13), “anjos de luz” (2 Cor 11, 14). Entretanto, os
próprios Livros Sagrados se referem a “espírito imundos” (Lc 8, 29); “espíritos
malignos” (Ef 6, 12); “espíritos piores" (Lc 11, 26); e outras expressões
análogas. Isto indica que certos anjos tornaram-se maus, tiveram sua vontade
pervertida. Em suma, pecaram.
A batalha no Céu:
“Tu, desde o princípio, quebraste o meu jugo, rompeste os meus
laços e disseste: — Não servirei!” (Jer 2, 20).
Este versículo do Profeta Jeremias sobre a revolta do povo eleito
contra Deus tem sido aplicado à revolta de Lúcifer. Mas ao brado de rebelião de
Lúcifer “Não servirei!” — respondeu São Miguel com o brado de fidelidade: “Quem
é como Deus!” (significado do nome Miguel em hebraico: מיגל ). No Apocalipse,
São João descreve essa misteriosa batalha que então se travou no céu:
"E houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos
pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejavam contra ele;
porém estes não prevaleceram e o seu lugar não se achou no céu. E foi
precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama o
Demônio e Satanás, que seduz todo o mundo; e foi precipitado na terra e foram
precipitados com ele os seus anjos” (Apoc 12,7-9). O próprio Jesus dá
testemunho dessa queda: “Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago” (Lc 10,
18). “O Demônio foi homicida desde o principio, e não permaneceu na
verdade" (Jo 8,44).
Os anjos podiam pecar:
Como poderia o anjo ter pecado, uma vez que ele não está sujeito
às paixões ou ao erro no entendimento, como nós homens? "Como compreender
semelhante opção e rebelião a Deus em seres de tão viva inteligência?” —
pergunta João Paulo II. O Pontífice responde: “Os Padres da Igreja e os
teólogos não hesitam em falar de cegueira, produzida pela supervalorização da
perfeição do próprio ser, levada até o ponto de ocultar a supremacia de Deus, a
qual exigia, ao contrário, um ato de dócil e obediente submissão. Tudo isto
parece expresso de maneira concisa nas palavras: "Não servirei" (Jer
2, 20), que manifestam a radical e irreversível rejeição de tomar parte na
edificação do reino de Deus no mundo criado. Satanás, o espírito rebelde, quer
seu próprio reino, não o de Deus, e se levanta como o primeiro adversário do
Criador, como opositor da Providência, antagonista da sabedoria amorosa de
Deus”(Apud Mons.C. BALDUCCI, El díablo, p. 20.)
E o Papa explica que os anjos, por serem criaturas racionais, são
livres, isto é, têm a capacidade de escolher a favor ou contra aquilo que
conhecem ser o bem: “Também para os anjos a liberdade significa possibilidade
de escolha a favor ou contra o bem que eles conhecem, quer dizer, o próprio
Deus”. (João Paulo II, Mcm, ibidem). Criando os anjos racionais e livres, quis
Deus que eles - com o auxílio da graça — fossem os agentes de sua própria
felicidade ou de sua perda, caso cooperassem ou resistissem à graça. Para que
merecessem a felicidade eterna, submeteu-os a uma prova. É de fé que todos os
espíritos angélicos foram submetidos a uma prova. Entretanto, não sabemos qual
teria sido essa prova. Os teólogos procuram excogitar qual teria sido.
O pecado dos anjos maus. Qual teria sido a prova a que foram
submetidos os anjos? E qual teria sido o pecado dos que sucumbiram à prova?
Um pecado de soberba:
Acredita-se comumente que tenha sido um pecado de orgulho, de
soberba, pois a Escritura diz que “foi na soberba que teve início toda a
perdição” (Tob 4, 14).
Santo Atanásio (séc. IV) o afirma explicitamente: "O grande
remédio para a salvação da alma é a humildade. Com efeito, Satanás não caiu por
fornicação, adultério ou roubo, mas foi o seu orgulho que o precipitou ao fundo
do inferno. Porque ele falou assim: "Eu subirei e colocarei meu trono
diante de Deus e serei semelhante ao Altíssimo" (Is 14, 14). E é por essas
palavras que ele caiu e que o fogo eterno se tornou sua sorte e sua
herança”.(Apud Card. P. GASPARRI, Catechisme Catholique pour Adultes. p 345.)
Em que teria consistido essa soberba?
Segundo São Tomás de Aquino, essa soberba consistiu em que os
anjos maus desejaram diretamente a bem-aventurança final, não por uma concessão
de Deus, por obra da graça, e sim por sua virtude própria, como mera
decorrência de sua natureza. Desse modo, quiseram manifestar sua independência
em relação a Deus; eles recusaram assim a homenagem que deviam a Deus como seu
criador e desejaram substituir-se a Ele e ter o domínio sobre todas as coisas:
ser como deuses (cf. Gen 3,5).
São Tomás faz igualmente referência à seguinte passagem de Isaías
— referente ao rei de Babilônia, mas geralmente aplicada a Satanás — para
ilustrar o pecado dele e dos anjos maus que o acompanharam na revolta: “Como
caíste do céu, ó astro brilhante ['Lúcifer', do Latim lux fero], que ao nascer
do dia brilhavas? ... Que dizias no teu coração: ...serei semelhante ao
Altíssimo.”(Is 14, 13-14).
O pecado de Lúcifer e dos anjos que se revoltaram com ele teria
sido, pois, um pecado de soberba, ou seja de complacência na própria
excelência, com menosprezo da honra e respeito devidos a Deus. Estes elementos
se encontram em todo pecado — explica o Pe. Bujanda — pois quem ofende a Deus
prefere a própria vontade, em vez da vontade divina, e nela se compraz.
Revelação da Encarnação:
Não está formalmente revelado no que consistiu exatamente a prova
dos anjos; os teólogos fazem hipóteses teológicas, como a de São Tomás, exposta
acima. Francisco Suárez, teólogo jesuíta do século XVII, levanta outra
hipótese: a prova dos anjos teria consistido na revelação antecipada por Deus,
da Encarnação do Verbo. Os anjos maus se teriam revoltado contra a submissão em
que ficariam em relação à natureza humana do Verbo Encarnado, a qual, enquanto
natureza, seria à natureza angélica. Uma variante dessa hipótese é a que afirma
que Lúcifer e os anjos revoltados não quiseram submeter-se à Mãe do Verbo
Encarnado, pela sua dignidade ficaria colocada acima dos próprios anjos, embora
inferior a eles por natureza. Essa hipótese, entretanto, está ligada a uma outra
questão: se o Verbo se teria encarnado mesmo sem o pecado de Adão. Suárez, com
algumas adaptações, segue a opinião de Duns Escoto e de Santo Alberto Magno, a
qual sustenta que sim; São Francisco de Sales também participa dessa opinião.
São Tomás, porém, é de outro parecer. Argumenta ele: "Seguindo a Sagrada
Escritura, que por toda a parte apresenta como razão da Encarnação o pecado do
primeiro homem, é conveniente dizer-se que a obra da Encarnação está ordenada
por Deus como remédio contra o pecado. De tal modo que, se não existisse o
pecado não teria havido a Encarnação, embora a potência divina não esteja
limitada pelo pecado, podendo, pois, Deus encarnar-se, mesmo que não houvesse o
pecado” (Suma Teológica, 3, q. 1, a. 3.)
São Boaventura reconhece que a opinião tomista é mais consoante
com a Fé, enquanto a outra favorece mais a razão. (In III
Sent.,Dist.I,a.2,q.2). Embora ambas as opiniões sejam sustentáveis, o comum dos
Doutores acha que a hipótese tomista é mais provável, sendo predominante entre
os Santos Padres.
Santo Agostinho afirma: “Se o homem não tivesse caído não se teria
feito carne.”(Serm. 174,2) Em favor dela fala igualmente o Símbolo dos
Apóstolos, isto é, o Credo, quando proclama: “O Qual [o Verbo], por nós homens,
e por nossa salvação, desceu dos céus". Também a liturgia pascal, que
canta: “Ó culpa feliz, que nos mereceu um tal Redentor!"
O Pe. Christiano Pesch S.J. diz que a posição tomista de tal modo
se tornou comum, que hoje há poucos defensores da esposada por Suárez, quanto à
Encarnação do Verbo. Daí decorreria que a hipótese de Suárez com relação ao
pecado dos anjos ficaria também prejudicada. (C. PESCH 53, De Angelis, III, p.
71; cf. também Mons. P. PARENTE. Incarnazioni, col 1.751; I. SOLANO, De Verbo
incarnato, pp. 15-24).
A obstinação dos demônios:
Nós homens temos certa dificuldade psicológica em compreender que
os demônios, por um só pecado, tenham sido condenados eternamente, enquanto
Adão e Eva puderam ser perdoados. Por isso, desde os primeiros tempos do
Cristianismo, não faltaram autores que sustentaram a possibilidade de
reconciliação dos anjos decaídos com Deus. Essa doutrina foi condenada pela
Igreja e São Tomás explica a razão pela qual isso não é possível: em primeiro
lugar porque a prova a que os anjos foram submetidos, a fim de merecerem a
bem-aventurança eterna, teve para eles o mesmo efeito que tem para nós homens a
morte; ou seja, encerra o período em que podemos adquirir méritos, e nos
introduz na vida eterna, imutável por natureza. Os anjos bons, tendo sido
fiéis, passaram a gozar da bem-aventurança eterna; os anjos maus ou demônios
foram precipitados no inferno por toda a eternidade. Em segundo lugar, por
causa da natureza angélica: os anjos, uma vez feita uma escolha, não podem
voltar atrás, seja para o bem, seja para o mal. Porque eles não estão sujeitos
à mobilidade das paixões humanas, sua inteligência é perfeita, de modo que eles
não podem fazer escolhas provisórias, como o homem. Antes de fazer uma escolha,
o anjo é perfeitamente livre; feita esta, sua vontade adere a ela para sempre,
pois todas as razões que o levaram a fazer essa escolha já estavam perfeitamente
claras para ele antes que a fizesse.
O lugar de condenação dos demônios. O Inferno:
A tremenda realidade do inferno, como lugar criado para os
demônios e os malditos, é atestada pelo Divino Salvador ao falar do Juízo
Final: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado
para o Demônio e para os seus anjos” (Mt 25,41). São Pedro ensina que Deus não
perdoou aos anjos que pecaram. Prepitou-os no tártaro, para serem atormentados
(2 Ped 2, 4). E São Judas escreve que Deus “prendeu em cadeias eternas, no seio
das trevas", os anjos prevaricadores (Jud 6). Assim como o lugar para os
anjos bons é o Céu, para os demônios é o inferno. Mas os demônios têm dois
lugares de tormento: um em razão de sua culpa, que é o inferno; outro, em função
das tentações a que submetem os homens: a atmosfera tenebrosa, pelo menos até
terminar o mundo.
Os demônios dos ares:
A doutrina de que os demônios vagueiam pelos ares para tentar os
homens é claramente afirmada por São Paulo na Epístola aos Efésios: “O príncipe
que exerce o poder sobre este ar ... os dominadores deste mundo
tenebroso, os espíritos malignos espalhados pelos ares” (Ef 2,2; 6,12). E é
confirmada pela Igreja, por exemplo, na oração a São Miguel Arcanjo, que o Papa
Leão XIII compôs e mandou recitar ao fim da Missa, na qual invoca o Príncipe da
milícia celeste, para que — pelo divino poder — precipite no inferno "a
Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as
almas”.
A “hierarquia” entre os demônios:
Entre os demônios existe urna “hierarquia”, que decorre do fato
de, sendo anjos, uns terem a natureza mais perfeita do que outros. Por isso se
diz que Satanás é o príncipe, o chefe dos demônios. Não que exista entre eles
uma submissão por amor ou respeito, como na verdadeira hierarquia; os demônios
se odeiam mutuamente e só se unem circunstancialmente para atormentar os
homens. É o mesmo que — explica São Tomás — se dá entre os homens maus:
eles formam quadrilhas e se submetem a um chefe, apenas como meio de melhor
cometerem seus roubos ou homicídios contra os homens honestos (Suma Teológica,
1,Q. 109, A.1-2)
Os nomes dos demônios:
Os judeus não tinham uma palavra específica para indicar os
espíritos malignos; a designação geral de demônio para os anjos decaídos vem da
versão grega do Antigo Testamento. A palavra /daimon/ entre os gregos [Gr:
δαιμονίου], designava os seres com forças sobre-humanas, especialmente os
maléficos. A palavra hebráica /sâtân/ [Hb: שטן ] significa adversário,
acusador. Satanás, o chefe dos demônios, é também conhecido nas Escrituras como
Diabo (do gr: διαβολος , que quer dizer 'caluniador'). Nas Sagradas Escrituras
aparecem os nomes de vários demônios: Azazel, demônio que habita o deserto (Lev
16, 8-10, 26); Asmodeu, que matou os sete maridos de Sara (Tob 3, 8); o nome
Belzebu (ou Beelzebul, cuja significação parece ser “deus do esterco”, nome com
que os rabinos indicariam os sacrifícios oferecidos aos ídolos) é apresentado
como sinônimo para Satanás ou príncipe dos demônios (Mt 12,14; Mc 3, 22-26).
Lúcifer foi a palavra escolhida na Vulgata para traduzir para o latim a
expressão “astro brilhante" ou “estrela brilhante”, da profecia de Isaías
(Is 14, 12), que costuma ser interpretada como uma referência à queda do
Demônio; em geral esse apelativo é utilizado igualmente como sinônimo de
Satanás.
O termo 'Vulgata' foi a tradução latina da Bíblia feita em grande
parte por São Jerônimo, que iniciou seu trabalho por volta do ano 384. Essa
tradução latina foi aperfeiçoada por iniciativa da Santa Sé, dando origem a
chamada Vulgata Sixto-Clementina publicada em 1592 pelo Papa Clemente VIII, em
uso ainda hoje. Após o Concílio Vaticano II, por determinação do Papa Paulo VI,
foi realizada uma revisão da 'Vulgata', sobretudo para uso litúrgico. Esta
revisão, terminada em 1995, e promulgada pelo Papa João Paulo II em 25 de abril
de 1997, é denominada 'Nova Vulgata', em Latim 'Neo-Vulgata'.
A Psicologia do demônio:
"Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na
verdade; é mentiroso e pai da mentira".(Jo 8,44)
Com base nas Sagradas Escrituras e em outras fontes, poderíamos
ressaltar alguns aspectos da psicologia de Satanás e seus anjos malignos.
Embora os demônios sejam diferentes entre si, assemelham-se em seu desejo de
fazer o mal e em sua natureza decaída; por isso o que é dito a respeito de
Satanás, seu chefe, pode-se dizer dos outros demônios.
Os demônios, puros espíritos, como anjos que são, não têm as
fraquezas e as debilidades dos homens; de onde, sua revolta contra Deus ser
permanente, imutável, eterna. Sua vontade, deixando de ter como objeto o Sumo
Bem, tornou-se uma vontade pervertida fixada no mal. Dessa forma, os demônios
não desejam senão o mal em todos os seus atos voluntários, e mesmo quando fazem
algum bem (como, por exemplo, restituir a saúde a alguém, obter-lhe riquezas ou
ensinar-lhe algo), fazem-no apenas para dai tirar o mal, conduzir a pessoa à
perdição eterna, que é a única coisa que almejam para os homens. Tendo sido
criados bons por Deus, sua natureza ainda continua boa em si mesma; porém, eles
se tornaram seres pervertidos em sua vontade, buscando não mais seu fim último,
que é o serviço e a glória de Deus, mas justamente o contrário, isto é, tudo
fazer para impedir que Deus seja glorificado. Não podendo atingi-Lo
diretamente, eles procuram agir sobre as criaturas de Deus, na medida em que
Ele o permite.
Homicida e mentiroso— Astuto, falso, enganador
O divino Redentor resumiu em poucas palavras essa psicologia
diabólica: “Ele foi homicida desde o princípio, e não permaneceu na verdade;
porque a verdade não está nele; quando ele diz a mentira,fala do que lhe é
próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8, 44). O demônio é
homicida e o pai da mentira, o mentiroso por excelência que odeia a verdade,
porque a verdade nos conduz a Deus: "Eu sou o caminho, a verdade, a vida”
(Jo 14, 5); ele odeia o Criador e, tendo-se separado de Deus, separou-se para
sempre da verdade e da vida. E através da mentira que ele dá a morte, a morte
espiritual. Santo Agostinho, a respeito da afirmação de Jesus de que o demônio
é homicida e mentiroso, comenta: “Perguntamos de onde veio ao diabo o ser
homicida desde o princípio, e respondemos que matou o primeiro homem, não
enterrando-lhe o punhal ou infligindo-lhe qualquer outro dano no corpo, senão
persuadindo-o a que pecasse precipitando-o da felicidade do paraíso”. (Apud J.
MALDONADO S.J., Comentarios a los Cuatro Evangelios, p. 563)
Pe. João Maldonado, erudito exegeta jesuíta do século XVI, observa
sobre essa mesma frase - “Porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,
44): “A maior parte dos autores entendem isto daquelas palavras que o diabo
disse a Eva: ‘Sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal.’ (Gen 3, 5);
palavras em que evidentemente mentiu; quer dizer, uniu a mentira com o
homicídio (espiritual), perpetrando os dois crimes ao mesmo tempo. ... Chama-se
ao diabo pai da mentira porque é ele o autor e inventor da mesma, de tal modo
que pode dizer-se que deu à luz a ela” (J. MALDONADO S.J., op. cit., pp.
564-566). Quando tenta o homem, procurando afastá-lo de Deus, ele mente
apresentando uma falsa imagem da realidade, escondendo seus verdadeiros fins e
enredando sua vítima no engano, no sofisma e na falsidade.
Ele é astuto, falso, enganador:
“Satanás se distingue por sua astúcia — escreve Mons. Cristiani. O
que quer dizer esta palavra? A astúcia é um artifício enganador. O ser que age
por astúcia tem más intenções. Se ele fala, não é para dizer a verdade, mas
para enganar, para conduzir ao erro, à inverdade. Satanás é falso. Não se pode
confiar nele. O que falta antes de tudo nele é a eqüidade, a lealdade, a
franqueza. Ele é equívoco, voluntariamente obscuro e dissimulado” (Mgr L.
CRISTIANI, Présence de satan dons le monde moderne, p. 306.)
Soberba demencial, inveja mortal:
Por detrás dessa dissimulação se esconde o seu desejo oculto,
assim expresso por Mons. Cristiani: “Ser como Deus! Este ato de orgulho é o
fundo mesmo da psicologia de Satanás! ... ‘Vós sereis como deuses!’ Ele
próprio, na sua queda, se considera como um deus. Seu orgulho não está morto. O
orgulho levado até à adoração de si mesmo é o que faz o demônio voltar-se contra
o Criador. É o orgulho que, tendo-o afastado de Deus, fez dele o Adversário. No
livro do Eclesiástico esta conseqüência do orgulho é posta em evidência: ‘O
princípio do orgulho é abandonar o Senhor e ter seu coração afastado do
Criador, porque o princípio do orgulho é o pecado, aquele que se entrega a ele
espalha a abominação.‘ (Eclo 10, 12-13). ... Compreendemos, então, porque Jesus
Cristo, que é a Via, a Verdade, a Vida, tenha definido Satanás como o Pai da
mentira, o homicida desde o começo. E, para nós, este termo de homicida
longe de ser excessivo, não diz senão um aspecto da verdade total: Satanás é,
com efeito, acima de tudo, o DEICIDA!” (Mgr L. CRISTIANI, op. cit., p. 308.)
O orgulho de Satanás e seus anjos malignos não conhece limites:
"Que orgulho demencial — comenta ainda Mons. Cristiani — nessa palavra de
Satanás a Cristo, mostrando-lhe em espírito todos os reinos da terra: ‘Tudo
isto eu te darei se prostrado por terra me adorares!´O fundo último da ambição
satânica é este: Tirar de Deus seus adoradores, fazer convergir as adorações
dos homens para ele próprio!
"Resumamo-nos: o orgulho, a vontade de se fazer deus, a
astúcia, a inveja e o ódio do homem, tudo isto desembocando na mentira, no
homicídio, no deicídio: eis Satanás!”. (Mgr L.CRISTIANI, op. cit., p. 308.)
Não lhe importam as derrotas que sofre continuamente, nem mesmo a
final e definitiva a que está condenado; sua soberba se satisfaz com os
pequenos triunfos que obtém, no esforço de levar as almas à eterna perdição.
Comenta o Cardeal Lepicier: “Escudado na satisfação de certas
vitórias parciais e na esperança de grandes triunfos e, ao mesmo tempo, não se
preocupando com as vergonhosas derrotas sofridas, Satanás prossegue loucamente
na sua faina de tentar arrastar as almas para a eterna perdição. O seu pendão
está sempre erguido e o seu grito insensato de desafio e revolta ouve-se por
toda parte: ‘Eu não quero servir! ‘ (Jer 2, 20)”. (Card. A.LEPICIER. O Mundo
invisível p. 240.)
O pai da vulgaridade:
Outro aspecto da psicologia maldita do demônio é a vulgaridade.
Odiando a Deus, ele odeia tudo aquilo que é verdadeiro, belo, bom. Ele odeia a
compostura, a dignidade, a seriedade, a serenidade.
O abade João Cassiano já observava no século V: “É fora de dúvida
que existe entre os espíritos impuros o que o vulgo chama espíritos vagabundos,
que são antes de tudo sedutores e bufões. Eles se postam constantemente em
certos lugares e se divertem em enganar, muito mais do que em atormentar,
aqueles que eles encontram. Eles se contentam em fatigá-los por seus
escárnios e suas ilusões..." (Apud Mgr L. CRISTIANI, op. cit., p. 311.).
São os famosos demônios bufões, que fazem talhar a manteiga, secam o leite
das vacas, desencadeiam enxames de vespas ou de abelhas, etc., tudo para fazer
os homens perderem a paciência, praguejarem, blasfemarem. Mons. F. M.
Catherinet, demonólogo francês, analisando a ação dos demônios segundo as
narrações evangélicas, traça deles o seguinte perfil: "Medrosos,
obsequiosos, poderosos, malfazejos, versáteis e mesmo grotescos... (Mgr F. M.
CATHERINET, Les Démoniaques dans l´Évangile, P.319. )
Em carta a Mons. Cristiani, o Pe. Berger-Bergès, famoso exorcista,
escreve: "Vós me perguntais ... qual é a psicologia de Satanás,
quando ele está submetido à ação dos exorcismos... É preciso definir e resumir
a psicologia de Satanás por estas palavras: ORGULHO, DESPREZO DE SUA
VÍTIMA, TENACIDADE!"(Mgr L. CRISTIANI, op. cit., p. 312.)
O poder dos demônios."O próprio Satanás se disfarça em anjo
de luz”.(2 Cor 11,14):
TUDO QUANTO DISSEMOS a respeito do poder e do modo de agir dos
anjos sobre a matéria aplica-se igualmente aos demônios, que são anjos
decaídos, mas que conservaram a natureza angélica e os poderes a ela
inerentes.
Já vimos anteriormente como a presença dos anjos em um lugar não
se dá fisicamente (contato físico), pois são seres incorpóreos, e sim por meio
de sua atuação (contato operativo): os anjos estão onde atuam. Em virtude de
sua natureza espiritual, eles podem exercer sua atividade e tanto de fora dos
corpos, como no interior deles, conforme observa São Boaventura: “Os demônios,
em razão de sua sutileza e espiritualidade, podem penetrar em qualquer corpo e
aí permanecer sem o menor obstáculo e impedimento”. (In II Sent., Dist. 8, p.
2, a. um., q. 1, apud Mons. C. BALDUCCI, Gli Indemoniati, p.12.)
De um modo direto e imediato os demônios podem produzir na matéria
apenas movimentos locais, ou extrínsecos, transferindo uma coisa de um lugar
para outro, sem entretanto alterar a natureza ou substância dessa coisa; de
modo indireto, através desses movimentos locais, eles podem agir sobre a
própria substância da matéria, ao modificar a posição ou a quantidade dos
elementos constitutivos da mesma.
Caso Deus o permitisse, os demônios, por sua natureza angélica,
poderiam causar toda espécie de transtornos físicos. O Cardeal Lepicier afirma
que se pode dizer que praticamente não há fenômeno no mundo que não possa ser
realizado, de um modo ou outro, pelos anjos; logo, também pelos demônios.
(Cardeal A. LEPICIER, O Mundo invisível, pp. 74.75.) E não raro o fazem,
provocando tempestades, cataclismos, incêndios e outros desastres como também
aparições fantasmagóricas, ruídos infernais e perturbações de toda ordem.
Poder dos demônios sobre o homem:
Em relação ao homem, os demônios só podem operar de modo direto e
imediato sobre aquilo que nele é matéria, ou está e necessária dependência
dela; podem agir nas funções da vida vegetativa, enquanto ligadas à matéria, e
sobre a vida sensitiva, porque esta depende de órgãos corporais. No que se
refere às funções próprias da vida intelectiva, os demônios só podem chegar a
elas indireta e mediatamente, quer dizer, atuando sobre a parte corpórea e
sobre a vida sensitiva, das quais a alma deve servir-se para desenvolver suas
atividades espirituais. Em outros termos, os demônios podem agir diretamente
sobre a parte corpórea do homem, mas apenas indiretamente sobre sua
inteligência e sua vontade. Conforme ensina São Tomás,(Suma Teológico. 1-2, q.
80, a. 1-3.) o entendimento, por inclinação própria só se move quando algo o
ilumina em ordem ao conhecimento da verdade. Ora, os demônios não querem
conduzir o entendimento à verdade, mas, pelo contrário, entenebrecê-lo como
meio de levar o homem ao pecado. Por isso, eles não conseguem mover diretamente
a inteligência do homem, e procuram então influir sobre ela indiretamente,
através de sua ação sobre a imaginação e a sensibilidade. Os demônios não podem
tampouco mover diretamente a vontade humana, pois isto só o próprio homem ou
Deus podem fazer; mesmo que o Maligno, por permissão divina, se
assenhoreie do corpo do homem e entenebreça sua mente — como se dá na possessão
— , ele não pode obrigá-lo a pecar, pois a vontade não participaria dos atos
maus assim realizados, os quais seriam em conseqüência pecados apenas
materiais. Para mover a vontade do homem, os demônios precisam, de algum modo,
convencê-lo, persuadi-lo a praticar uma ação má, ainda que sob a aparência de
um bem.
A ação persuasiva do demônio: "O demônio não força; ele
propõe, sugere, persuade, alicia”:
O demônio não tem o poder de obrigar os homens a fazer ou deixarem
de fazer algo; por isso procura persuadi-los para que se deixem conduzir pelo
seu mal. "Ele não os força: ele propõe, sugere, persuade, alicia” escreve
o Pe. J. de Tonquédec S.J., exorcista e demonólogo francês. E acrescenta: “No
Éden, ele deu a Eva razões para ela transgredir a ordem divina (Gen 3, 4-5,
13); no deserto, solicitou Nosso Senhor pela atração de uma dominação universal
(Mt 4, 26-27)”. (J. de TONQUÉDEC S.J., Quelques aspects de l´ation de Satan en
ce monde, p. 495.)
São Tomás também se refere a essa obra de persuasão do demônio,
explicando que a vontade humana só se move internamente por ação do próprio
homem ou de Deus; externamente ela pode ser solicitada pelo objeto que,
entretanto, não força o homem a escolher o que não quer. (Suma Teológica, 1-2,
q. 80, a. 1.)
O Pe. Cândido Lumbreras O.P., assim comenta essa passagem do
Doutor Angélico: “Que influência pode exercer o demônio nos pecados dos homens?
... O demônio pode oferecer aos sentidos seu objeto, falar à razão, seja
interiormente, seja exteriormente; alterar os humores e produzir imagens
perigosas, excitar enfim as paixões que podem mover a vontade e assenhorear-se
do entendimento.” (C. LUMBRERAS O.P., Tratado de los vicios y los pecados —
Introducción. p. 766.)
Em comentário a outra passagem de São Tomás, explica Pe. Jesus
Valbuena O.P.: “Que os anjos possam iluminar e de fato iluminem o entendimento
humano, é uma verdade que se atesta por uma multidão lugares nas Sagradas
Escrituras ... Também os anjos maus são capazes de produzir, com sua virtude
natural, falsas iluminações no entendimento dos homens, conforme nos admoesta
São Paulo para que estejamos alertas pois 'o próprio Satanás se disfarça em
luz’ (2 Cor 11, 14).
“Afirma São Tomás que nos sentidos do homem, sejam internos, sejam
externos, os anjos podem influir e agir a partir de fora e a partir de dentro
dos mesmos, quer dizer, extrínseca e intrisecamente; mas, em relação ao
entendimento e à vontade humanas, só os podem mover e influir indireta e
exteriormente, quer dizer propondo a estas potências espirituais de uma maneira
acomodada a elas seus objetos, que são a verdade e o bem e influindo nelas
indiretamente mediante os sentidos, as paixões, as alterações corporais
sensíveis, etc., embora não possam nunca chegar a dobrar ou completamente a
vontade do homem, se este se acha em estado normal” (J. VALBUENA O.P., Tratado
del Gobierno del Mundo— Introduccion, p. 898.)
Nos casos de Eva e de Nosso Senhor, o demônio “apresentou suas
razões” tomando uma forma corpórea, produzindo sons e articulando as palavras
oralmente; no geral dos casos, entretanto, o demônio, para persuadir o homem a
pecar, conjuga sua ação sensibilidade, a memória e a imaginação.
O demônio tem uma doutrina mentirosa, que opõe à doutrina de
Cristo:
Em sua introdução ao Tratado sobre os anjos, de São Tomás de
Aquino, comenta o Pe. Aureliano Martínez O.P.: “O demônio tem suas doutrinas
perversas, às quais o Apóstolo chama espírito do erro e ensinamentos do demônio
(1 Tim 4, 1), com as quais como deus deste mundo, cega a inteligência dos
homens para que não brilhe nelas a luz do Evangelho (2 Cor 4, 4); doutrinas que
propala mediante falsos apóstolos e operários enganadores que se disfarçam em
apóstolos de Cristo; e não é de espantar, pois o próprio Satanás se disfarça em
anjo de luz (2 Cor 11, 13-14), tentando os fiéis de incontinência (1 Cor 7, 5)
e de ira (Ef 4, 27)”. (A MARTÍNEZ O.P., Tratado de Los Angeles — Introducción,
p. 511.)
Foi por essa razão que o Divino Salvador definiu o demônio como
aquele "que não permaneceu na verdade; porque a verdade não está nele;
quando ele diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai
da mentira” (Jo 8, 44). Por meio dessa ação de persuasão o demônio
procura na tentação, não apenas induzir-nos a cometer este ou aquele pecado,
mas afastar-nos completamente de Deus.
Limites à ação do demônio:
Por mais poderoso que seja, com uma capacidade de ação superior à
de qualquer outro ser criado, o demônio, entretanto, não é onipotente. Sendo
mera criatura, ele tem suas limitações, decorrentes de três fatores: sua
própria natureza, a condição particular de cada demônio e a vontade permissiva
de Deus.
Como toda criatura, o demônio está limitado em sua atuação pela
sua própria natureza: por mais elevado que seja seu poder, este não pode
ultrapassar os limites de sua natureza criada. Ele é um ser finito,
contingente. Não se deve pois de forma alguma julgar que ele é capaz de saber
tudo (onisciência), de poder tudo (onipotência) e estar em todo lugar
(onipresença): esses atributos são exclusivos de Deus. Sua inteligência, embora
se tenha mantido intacta, está privada de todo auxílio sobrenatural. Os demônios
perderam, com o pecado, toda forma de conhecimento sobrenatural; enquanto os
anjos bons vêem em Deus o estado de uma alma (se ela está na graça divina ou em
pecado), os demônios só podem fazer conjecturas a respeito. O mesmo se deve
dizer quanto a certos acontecimentos futuros que Deus revela aos anjos.
Por sua natureza, nem os anjos bons nem os demônios podem conhecer
o futuro livre ou o futuro contingente isto é, aquele que depende da vontade
divina e do livre arbítrio humano mas apenas Deus, que o pode revelar aos seus
anjos. Outro limite natural à ação do demônio é, como vimos, sua
impossibilidade de agir diretamente sobre a inteligência e a vontade humanas;
ele tem de usar meios indiretos: a sensibilidade, a imaginação, as paixões, e
sobretudo a persuasão.
Outro limite à atuação demoníaca vem da diversa condição de cada
demônio. Assim como existem desigualdades entre o homens, também entre os anjos
e os demônios não há dois iguais. Por isso, nem todos os demônios têm o
mesmo poder. Outro fator de limitação é a posição relativa de cada demônio na
escala dos anjos decaídos, e as eventuais ordens e proibições que existam entre
eles.
O demônio só pode agir em detrimento do homem com a permissão de
Deus:
Ensina o Cardeal Lepicier: “É preciso que nos lembremos sempre de
que, por muito grande que seja o poder do demônio, tem limites que lhe foram
sabiamente determinados pelo Todo-Poderoso. Ele pode, sem dúvida, fazer-nos
mal, mas não além daquilo que lhe é permitido, e bem conhece que o seu poder
não pode durar muito. Pode ser que o conhecimento da curta duração do seu reino
contribua para que redobre a sua atividade nos tempos que vão correndo; mas
todos os seus esforços obedecem aos impenetráveis desígnios da Providência que
só permite que a sua influência seja exercida até certo grau, de forma que nos
possamos colocar debaixo da proteção de Deus e ganhar, pelos nossos méritos, a
vitória final e a coroa da imortal glória que nos espera no Céu."( Cardeal
A. LÉPICIER, O.S.M., O Mundo invisível, p.242.)
No livro de Jó, no qual é nomeado pela primeira vez nas
Escrituras, Satanás aparece como agente do mal, porém absolutamente subordinado
a Deus. Embora tenha inveja do justo Jó e queira pôr sua virtude à prova, por
meio da infelicidade, Satanás não pode agir senão com a autorização divina.
Ele tem necessidade de uma permissão, ou até mesmo de uma delegação do
Senhor. Sua ação é estritamente limitada à vontade de Deus, que permite,
primeiro atacar seu servidor exclusivamente em seus bens e não em sua pessoa;
depois em sua pessoa, mantendo entretanto sua vida (Jó 1, 6-12; 2, 1-7). São
Paulo nos tranqüiliza: "Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais
tentados além do que podem as vossas forças; antes, com a tentação, vos dará as
forças necessárias para sair dela e para suportá-la"(1 Cor 10,13). Por quê
Deus permite que o demônio tente o homem, como também o prejudique, muitas
vezes, de tantos modos? Como fica patente em tantas passagens da
Escritura e ensinamentos do Magistério eclesiástico, essa permissão divina tem
como escopo santificar o homem por meio de provações, puní-lo por alguma falta
grave, servir de ocasião para que se manifeste o poder divino de um modo
visível, como no caso dos exorcismos de possessos.
Poder dos anjos bons sobre os demônios:
Ensina São Tomás que os anjos bons, mesmo que por natureza
pertençam a uma hierarquia inferior à de algum demônio (por exemplo em ralação
a Satanás), sempre têm um domínio sobre os anjos decaídos, pois os anjos gozam
de perfeição da amizade de Deus, da qual estão privados os demônios; e esta
perfeição é superior à mera excelência natural, a única que permanece nos
demônios (Suma Teológica, 1,q. 109,a.4. ) Por isso observa o Cardeal Lepicier:
"A sabedoria de Deus torna-se ainda mais manifesta quando consideramos que
ele colocou os espíritos malignos debaixo do domínio dos anjos bons e deu a
cada homem, neste mundo, um anjo bom que o ilumina, guia os seus passos e o
defende contra os seus inimigos. Por isso, os assaltos do inimigo das
almas são aniquilados pela intervenção daqueles espíritos que se conservam
fiéis a Deus, e o demônio acaba por contribuir para a maior glória do
Criador". (Cardeal A. LÉPICIER, op. cit., p. 241. )
A AÇÃO ORDINÁRIA E EXTRAORDINÁRIA DO DEMÔNIO
DEUS GOVERNA O MUNDO, respeitando sua ordem e suas leis; isto é, a
normalidade, a simplicidade, o usual das coisas; tudo aquilo que sai desta
linha e que parece maravilhoso, prodigioso, milagroso é excepcional, muito
raro. Deus nos criou livres e espera de nós um livre consentimento à fé, sem
que nisto sejamos influenciados por uma manifestação habitual do preternatural
e do sobrenatural. Entretanto, para provar-nos, para que mereçamos a
bem-aventurança eterna, como também, muitas vezes, para castigo nosso, permite
Deus que o demônio nos atormente. A inclinação para o mal nos provém de três
causas: de nossa natureza, ferida pelo pecado original; do mundo e do demônio.
Entretanto Satanás desperta em nós, continuamente, a tríplice concupiscência
com insistentes tentações de soberba e orgulho, de luxúria, de avidez em todos
os níveis. Essa é a ação ordinária, comum, corrente do demônio — ou seja, a
tentação. Além dela, pode o Maligno exercer uma ação extraordinária.
A ação ou atividade demoníaca extraordinária pode ser assim
qualificada por duas razões: em primeiro lugar, pelo seu caráter surpreendente,
sensacional, espetacular; em segundo, pela sua relativa raridade (se comparada
com a ação ordinária). Estamos nos referindo à 'infestação diabólica' e à 'possessão
diabólica'.
“Sede sóbrios e vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda
como um leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé.”(I
Pedro 5,8)
Fonte: "Anjos e Demônios - A Luta Contra o Poder das
Trevas", por Gustavo Antônio Solímeo & Luiz Sérgio Solímeo. Editora
Artpress.[DR]
Se o Senhor nos revela os cinco espinhos que magoam e ferem intensamente Seu Coração divino, Ele nos dá como bom médico de almas e como Pai indulgente, quatro meios de honrar Seu Coração Misericordioso e tão amável para todo homem arrependido e aberto a Seu Amor e a Sua Palavra de vida. O primeiro meio de honrar o Coração de Jesus é recebê-lo na Comunhão muitas vezes e se possível, todos os dias ou ao menos, cada domingo, com fé, devoção e amor sincero. Com efeito, a maior prova de gratidão e amor que posamos dar para Aquele que se doa a nós é recebê-Lo. Santa Theresa d’Ávila morria por não poder morrer de amor, tanto ela suspirava depois da comunhão: “Não é mais possível, diz o sábio, trazer em si o fogo divino e não ser abrasado nele.” O coração do cristão é todo palpitante de amor desde que recebe Jesus Hóstia com fé e devoção, pois, Jesus é um centro de ternura e Toda alma piedosa e devota do Sagrado Coração deseja participar do banquete divino e se rejubila em poder comungar muitas vezes do Corpo e Sangue de Cristo para permanecer eternamente com Ele. De toda maneira, quanto mais uma alma comunga Jesus, mais ela deseja se unir a Ele na Comunhão freqüente para viver por Ele e para Ele. Santa Margarida Maria disse: “Sem o Santo Sacramento eu não poderia viver” Comungai muitas vezes e tantas vezes quanto possível em estado de graça, a fim de crescer pela Eucaristia em santidade. “tenho imenso desejo de partilhar a Páscoa convosco. Tomai e comei, isto é Meu Corpo, isto é Meu Sangue.” nos disse Jesus. Se os cristãos da Igreja primitiva se amavam muito e refletiam uma grande caridade mútua, é porque eles tinham uma grande devoção ao Santo Sacramento e comungavam todos os dias a Eucaristia. Comungai muitas vezes em reparação pela frieza, a indiferença, todas as negligencias e traições dos homens. Santa Margarida declarou: “Tenho tão grande desejo da Santa Comunhão que voluntariamente para buscá-La eu caminharia de pés descalços num trajeto em chamas”. Nada espantoso que com tal amor pela Eucaristia, santa Margarida ouvisse o Senhor lhe confirmar que Ele escolheu sua alma para ser um céu de repouso na terra e seu coração um trono de delícias para Seu divino Amor. Deus tem necessidade de nutrir o coração humano com Sua Eucaristia. E a todos aqueles que vêm a Ele em estado de graça, aprendem a crescer na fé, a permanecer na esperança, a partilhar na caridade e a progredir em todas as virtudes. Feliz aquele que se nutre humildemente do Corpo de Cristo, porque recebe a plenitude da graça eucarística que absolve seus pecados veniais e eleva seu espírito e coração para mais sabedoria e amor. Assim, o homem unido ao Cristo eucarístico se torna ele mesmo, um outro Cristo que completa pela sua liberdade entregue à vontade de Deus. E encontra nesta união a Deus, a alegria perfeita e o repouso da alma tanto desejada. O segundo meio de honrar o Coração de Jesus são as visitas freqüentes ao Santo Sacramento. Jesus se faz prisioneiro do tabernáculo para me libertar de mim mesmo e de minha natureza preguiçosa. Depois da santa Missa e Comunhão nada é mais agradável a Jesus do que nossa visita ao Santo Sacramento. Ir contemplar e adorar o Corpo o Sangue , a Alma e a Divindade deste Deus Salvador no Sacramento de Seu Amor é a mais bela prova de amor que se possa testemunhar a Jesus Hóstia. Jesus está lá com Seu Amor e Seu devotamento sem limites por nós.está lá na espera de ser amado, adorado, receber agradecimento e comido pelos cristãos para se tornarem por sua vez cordeiros de Deus, capazes de se imolar para fazer reviver o homem e chamá-lo a modificar sua vida, orientando-a mais para a oração, a meditação evangélica e a caridade fraterna. Quem ama seus amigos deseja encontrá-los e partilhar com eles momentos intensos de alegria, reflexão e consolo. Vir a Jesus para encontrá-Lo na Eucaristia é pegar nEle o conforto de Sua Graça oferecida, as luzes do espírito tão desejadas e a paz do coração tão procurada. Numa palavra, a graça do repouso em Jesus Cristo, o único que pode cobrir nossa alma com todo amor da sabedoria que procura. É diante do Santíssimo Sacramento que o Cura d’Ars vinha buscar sua força de pastor e de confessor. É diante de Jesus Hóstia que São Francisco Xavier vinha recobrar novas forças para evangelizar, suportar o rigor e preparo do apostolado em terra pagã. É ainda diante do Santo Sacramento que Padre Pio vinha oferecer sua cruz suas tristezas e sofrimentos de seus estigmas para expiar os pecados dos homens e merecer para eles, graças de conversão, de cura e de discernimento. A adoração do Coração de Jesus escondido sob os véus do Santo Sacramento foi a grande devoção de todos os santos da Igreja. E nós, cristãos de hoje, sabemos tomar um pouco de tempo para visitar o Santo Sacramento, para nos recolher diante deste Deus de Amor que nos espera para derramar graças em nossos corações e nossos espíritos? Ou preferimos tardes mundanas , distrações fúteis, visitas entre amigos onde se misturam o vazio, a vaidade, a inveja e o ciúme? Lembremo-nos humildemente que é sempre ao pé do tabernáculo que encontraremos consolação, esperança e força diante das nossas tentações, nossos desencorajamentos, desgostos e lassidão. Feliz aquele que passa todo dia um pouco diante do Santíssimo Sacramento para fazer como o camponês de Ars, que dizia: “Eu olho para Ele e Ele olha para mim.” E descobrir no face a face mútuo, toda a riqueza do filho com seu Pai e do homem com seu Deus. O homem que sabe contemplar cada dia silenciosamente o Rosto e o Coração do Senhor no Santíssimo Sacramento, retira de sua oração, três verdades reconfortantes: a grandeza da humildade divina, a sabedoria da inteligência divina e o infinito do amor divino que é paciência e misericórdia para todo pecador arrependido e em marcha para sua salvação. O terceiro meio de honrar o Coração de Jesus é santificar a primeira sexta-feira do mês, festa de Seu Sagrado Coração. Jesus disse à santa Margarida Maria: “Tu comungarás todas as primeiras sextas-feiras do mês para honrar Meu Coração ultrajado.” Margarida Maria permaneceu fiel a esta recomendação do Senhor e recebeu graças abundantes. Naquele dia, o Senhor dilatou Seu Coração e abriu mais ainda para espalhar sobre os homens rios de bênçãos e de graças. Felizes as almas fervorosas que sabem nesse dia se aproximar deste coração adorável que tanto amou os homens e se unir a Ele na Eucaristia. Adorá-lo um momento no Sacramento de Seu Amor e aquecer neste ardente fogo de amor, o fogo de sua devoção, de seu zelo apostólico e seu ardor pela santidade. Estes cristãos escolhem nesse dia, entrar neles mesmos e examinar diante de Deus como passaram o mês e tomar a resolução de fazer melhor para se santificar e agradar ao Senhor no presente e no futuro. Nas comunidades religiosas, nos mosteiros, nas paróquias, o Santíssimo Sacramento é exposto nesse dia e termina com uma bênção do Santíssimo. Milagres de proteção, de cura e de conversão acontecem nesse dia, atestando que a primeira sexta-feira do mês é um dia de festa privilegiada onde se pode pedir tudo e obter tudo do Coração Misericordioso de Jesus. Nós sabemos como cristãos que a primeira sexta-feira do mês é o dia escolhido por Cristo para nos dar Suas graças em abundancia. Saibamos fazer um dia de recolhimento, de adoração e de ação de graças. Desde pela manhã, façamos nossa oração sobre as riquezas do Coração de Jesus e peçamos para abrir nosso espírito a Sua Sabedoria, para bem servi-Lo durante esse dia. Vamos comungá-Lo na Eucaristia com todo o fervor possível, oferecendo a Jesus (para suprir nossa insuficiência) os méritos da Santa Virgem e de todos os santos que souberam amá-Lo na terra e daqueles que sabem preferi-Lo a tudo o que existe neste mundo. Aproveitemos este dia para purificar nossa alma e fazer uma boa confissão para avançar na verdade, na virtude e na caridade do Senhor. E aproveitemos a nossa adoração diante do Santíssimo Sacramento, para nos consagrar ao Sagrado Coração, nós e nossa família, atraindo sobre nós e nossos próximos, as bênçãos e as graças das quais temos necessidade para Lhe ser fiel na fé e na caridade. Quantos cristãos tíbios se tornaram fervorosos pela devoção ao Sagrado Coração! Quantos lares infelizes, divididos encontraram a alegria e a paz da união por uma devoção comum ao Sagrado Coração! Quantas comunidades religiosas, grupos de ação social ou caritativa encontraram mais coesão fraterna e coragem apostólica, rezando ao Sagrado Coração de Jesus. Todos aqueles que souberam guardar esta devoção ao Sagrado Coração e vivê-la intensamente no dia da primeira sexta-feira do mês, durante toda sua vida, receberam muitas graças para dominar o espírito mundano e nunca afundar nos vícios e males que poderiam matar o corpo e a alma. Então, agradeçamos a Jesus que nos convida através de santa Margarida Maria, a venerar Seu Sagrado Coração e respondamos com alegria e entusiasmo Seu apelo para aliviar de todas as aflições os homens descrentes, indiferentes e hostis a Seu Amor. Receberemos largamente as graças das quais temos necessidade para sermos fiéis a Sua vontade de Amor. O quarto meio de honrar o Coração de Jesus é venerar Suas imagens. E a imagem de Seu Coração de carne coroado de espinhos com uma cruz em cima, foi para Ele, o meio de mostrar aos homens de todos os tempos, quanto Ele os amou sobre a terra, a ponto de morrer pela sua salvação e quanto continua a amá-los na esperança de sua conversão e reconhecimento de Seu Amor infinito pelo gênero humano. Ele prometeu à santa Margarida Maria que espalharia com abundância sobre aqueles que O honrassem, os tesouros de graças das quais Seu Coração está repleto e que em toda parte, onde Sua imagem é exposta para ser ali muitas vezes honrada, atrairia todas as graças e bênçãos. Santa Margarida Maria tomou cuidado em fazer gravar esta imagem do Sagrado Coração e espalhar. Ela queria que todos a conhecessem. Todos os pecadores para convertê-los. Todos os justos para inflamar ainda mais seu amor a Deus e ao próximo. Santa Margarida Maria amava tanto o Coração divino que molhou uma destas imagens no seu sangue e compôs uma oração e consagração notável, na qual ela se consagrava a Jesus sem reserva e sem partilha. Confortados pela promessa de Jesus os cristãos devotos do Sagrado Coração de Jesus gostam de venerar esta santa imagem e espalhá-la ao redor deles. A vista desta imagem os consola e encoraja. Se a sombra dos apóstolos curava os doentes, é preciso se espantar que a imagem do Sagrado Coração de Jesus seja tão poderosa para curar os males da alma e do corpo? Santa Theresa d’Avila queria encontrar o divino Coração de Jesus por toda parte onde olhava e dizia: “Se as pessoas amassem Nosso Senhor, elas se rejubilariam em ver Seu retrato, como no mundo somos felizes com as fotografias de entes queridos.” Se nós amamos o divino Coração de Jesus, vamos espalhar Sua imagem santa e rezemos para que toque o coração dos homens, desde os mais endurecidos até os mais exigentes. Desde os mais ricos até os mais pobres. Desde os mais tíbios até os mais indiferentes. Que cada um aprenda a conhecer os tesouros do Coração de Deus e buscar nele, as graças infinitas que contém e que Ele deseja tanto espalhar no coração humano tão só, tão abandonado, tão ferido pelo mal e tão ignorante de todo o bem que poderia dali retirar, se soubesse confiar no Coração tão amável de Jesus. Saibamos rezar, oferecer nossas tristezas, nossas eucaristias pela conversão dos pecadores e dos pagãos a fim de que um dia, eles sejam tocados pela graça da devoção ao Sagrado Coração de Jesus e recebam desta devoção, as graças e as bênçãos sem limites, que os conduzirão a uma verdadeira conversão e a um amor profundo do Senhor. Também para animar a coragem, a fé e a caridade dos justos, a fim de que munidos deste amor do Sagrado Coração eles saibam retirar dEle, a força de imitá-Lo, para amar como Ele até a morte e dar aos homens o sentido da Vida eterna -
[FONTE : Escrito pelo Pe. François Zannini. Extraído do Jornal Stella Maris – Junho 2011 Nº481]
Hoje, durante a Santa Missa, vi Nosso Senhor em sofrimento, como que agonizando na cruz. Ele me disse: Minha filha medita com freqüência sobre os sofrimentos que por ti suportei, e nada do que sofres por Mim te parecerá grande. Tu Me agradas mais quando meditas sobre a Minha dolorosa Paixão. Une os teus pequenos sofrimentos com a Minha dolorosa Paixão, para que tenha valor infinito diante de Minha majestade.
Hoje Jesus me disse: Muitas vezes Me chamas de teu Mestre. Isso agrada ao Meu Coração, mas não te esqueças, discípula Minha, que és discípula do Mestre Crucificado: essa única palavra te seja suficiente. Tu sabes o que encerra na cruz.
Conheci que a maior força está contida na paciência. Vejo que a paciência sempre conduz à vitória, embora não imediatamente, essa vitória se manifestará depois de anos. A paciência anda junto com a mansidão.
Oferecemos às almas religiosas a sexta edição do Ensaio sobre a Castidade, com o qual completamos a série dos nossos opúsculos sobre os votos de religião.
O nosso método é suficientemente conhecido e, graças a Deus, bastante apreciado para que nos demoremos mais a apresentar este novo trabalho.
Torna-se, no entanto, necessário fazer algumas observações:
1º- Empenhamo-nos, com um cuidado escrupuloso, em banir toda a idéia, toda a imagem, toda a expressão que fosse, em semelhante assunto, de natureza a perturbar, mesmo superficialmente, as almas mais facilmente impressionáveis; julgamos ter escrito castamente sobre a castidade.
2º- Este livro foi composto, muito especialmente, para as almas religiosas.Parece-nos todavia que ele pode ser lido e meditado, com proveito, por toda a alma desejosa de viver em toda a delicadeza, seja qual for a vocação que a Providência lhe tenha feito sentir.
3º- Será particularmente útil para esclarecer e confirmar as vocações nascentes.
Recomendamos novamente a nossa pessoa e os nossos trabalhos às piedosas orações das almas eleitas, que Nosso Senhor nos permite evangelizar.