terça-feira, 21 de dezembro de 2010
A cera e a santa pureza.
«A cera é símbolo de virgindade.
Mas que tem uma coisa a ver com a outra? Direi.
Que foi a cera nos seus princípios, senão flor conservada com os influxos da graça? Mais: a cera é inimiga da corrupção, por isso os persas envolviam os cadáveres em cera, como outros o fazem em bálsamo, para se conservarem incorruptos.
Assim, não há medicina que mais preserve o corpo da corrupção dos vícios, e ainda dos humores, como o faz a castidade.
Mais: a abelha, mãe da cera, é virgem; não tem coito; Maria, Puríssima Mãe da castidade, não conheceu obra de varão. E esta é a razão pela qual naquele círio que arde nos quarenta dias que vão da Páscoa da Ressurreição de Cristo até a Ascensão, diz Durando, representa-se Cristo, porque, assim como a cera foi feita pela abelha, a qual não tem coito, assim o corpo de Cristo foi gerado de Maria sem obra de varão.
A abelha das flores fez a cera para iluminar a Igreja; Maria Santíssima das flores do seu sangue fez o corpo de Cristo para iluminar o mundo.
Não pensem que naquele trono arde só um género de cera e um género de luz; duas são as ceras e duas as luzes, ainda que vá tanto de uma à outra.
A cera que lavrou a abelha dá luz aos olhos do corpo; a cera que lavrou Maria Santíssima está a dar luz aos olhos da alma.»
(Padre Manuel Bernardes, "Sermões e práticas")
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